terça-feira, 25 de março de 2008

UMA CARTA DO FUTURO

Tenho hoje 22 anos. Convivi muito pouco tempo com meu avô. Quando nasci, ele já era velhinho. Mas ainda conviveu comigo até o início da minha adolescência. Mas me lembro que gostava muito de ouvir as histórias dele sobre o Galo. Me lembro da primeira camisa preto e branca que eu ganhei...foi ele quem me deu. Me lembro da minha primeira vez na Arena do Galo, e também no Mineirão...foi ele quem me levou.

Hoje é um dia que me lembro com saudades do senhor. Porque hoje é um dia que marca mais um aniversário do meu Clube Atlético Mineiro. São 160 anos de história...e ah vovô, como eu queria que o senhor estivesse aqui. Para o senhor ver, no que o nosso tão amado Galo se transformou!! Me lembro das histórias que o senhor me contava sobre a sua época, e ficava me perguntando: "será que ele está falando do mesmo time, do mesmo clube que eu torço hoje? Que eu me acostumei a ver vencer?"

Sabe vovô, hoje quando o Galo completa 160 anos, muitas pessoas, muitos noticiários tendem a relembrar o ano do Centenário. E pelo que o senhor me contava, o Galo daquela época, do ano do Centenário, estava ainda atravessando uma de suas piores fases desde a fundação. Mas hoje eu vejo vídeos, escuto histórias, e me pergunto: será que foi assim mesmo? É porque eu ainda me recuso a acreditar que o time que eu torço hoje, o meu Clube Atlético Mineiro, passou uma fase tão horrível como nos anos que antecederam o Centenário. Mas, o que mais me surpreende, é que mesmo com essa fase, eu vejo várias pessoas nas ruas naquela época, fazendo uma festa incrível, como nós fizemos no nosso quarto mundial.

Hoje nós somos privilegiados Vovô. O senhor ainda tinha que estar aqui pra ver. Torcemos para um clube super campeão. A minha geração se acostumou a vencer, se acostumou a ver o Galo campeão. E pelo jeito este ano, o Brasileiro é nosso de novo. Tá bom que o Botafogo começou o ano muito bem, e o Santos ainda vem invicto, mas eu confio plenamente na gente. Isso se o Elias Santana deixar de ser teimoso e mexer mais no time...mas eu não vim aqui discutir tática, nem sobre o time atual. Até porque o senhor não os conhece. Apenas hoje me lembrei do senhor de forma especial. Andei contando aos amigos de faculdade sobre as suas histórias.

O senhor me falava de um tal de Marques. Um atacante meio franzino, mas que chegou e assumiu a camisa 9 do Atlético, e mesmo sem ser aquele matador nato, era de uma habilidade incrível, talvez o maior ídolo da sua geração. Me falava de um tal de Ziza...um presidente que falava demais. Chegou a prometer reforços inimagináveis naquela época, talvez ele fosse até mais passional do que a gente é hoje. Me falava de um mais antigo ainda, um tal de Guilherme...um campeão do mundo pela Seleção, Gilberto Silva. Como não lembrar do Diego, o goleiro da Seleção no Hexa em 2014...Tinha também um menino que depois virou craque, chamava Renan. Me lembro também de ouvir falar num Danilinho. Esse eu gostaria de ter visto jogar! Aliás, o Diego foi homenageado tempos atrás pelo Galo. Ele está hoje com 84 anos, mas diz lembrar de muita coisa que viveu com a camisa do Glorioso. É bacana o que estão fazendo agora de homenagear os antigos ídolos. Estes mesmos que o senhor viu jogar, e que sofreu junto com eles. Estamos conhecendo nosso passado, e temos muito orgulho dele.

Mas creio que ninguém merece maior homenagem Vovô, do que os torcedores da sua geração. Vocês passaram com o Galo a pior fase da história, segundo o senhor mesmo, e suportaram. Foram vocês, que mantiveram vivo, esse amor que hoje nós cantamos ao mundo, o orgulho de ser Alvinegro Mineiro tantas vezes campeão brasileiro, e do mundo. E eu sei, que o senhor sabia que isso iria acontecer. Esse futuro tão glorioso que hoje é presente. Eu sei porque eu via quando o senhor me contava que naquela época, mesmo com o time devendo dentro de campo, fora dele o Atlético estava começando a construir um estrutura invejável. Ela era só o embrião, de tudo o que estamos vivendo hoje. Seguindo a risca o ditado de que "quem planta, colhe".

É por isso que hoje, dia 25 de março de 2068, eu me lembro com saudades do senhor! E lhe agradeço. A você e a todos os torcedores da sua geração. os torcedores que viveram o Centenário. Os torcedores que ficaram 6 anos sem títulos. Os torcedores que vivenciaram a Série B...o senhor sabe que eu nunca acreditei muito nessa parte da história mas como foi você que contou, eu acredito. Obrigado a vocês. Porque se vocês tivessem desistido, hoje eu não estaria aqui, torcendo pelo clube e pela torcida mais linda do mundo. Talvez ela nem existisse mais...foram vocês, que mantiveram o Atlético vivo!!! Foram vocês que o transformaram no que ele é hoje!!

Passar essa paixão pros meus netos, será muito mais fácil do que foi para o senhor, Vovô. Talvez eu até viva o segundo centenário. Assim espero. E com toda a certeza, eles ainda ouvirão falar muito do senhor. E dos atleticanos da sua geração...isso não pode ser esquecido.

Parabéns meu Galo!! Parabéns, atleticanos de todas as idades. Parabéns pelos 160 anos de Glórias!!!

* Alexandre Silva é atleticano e repórter da Rádio Divinópolis AM - MG

8 comentários:

Rafael Castelo Branco de Oliveira Torres disse...

Parabéns. Foi o texto de que mais gostei até agora. Muito bom mesmo. Espero que nossos netos possam mesmo escrever cartas como essa, e vivenciar aquilo que infelizmente não pudemos (ou não nos permitiram até agora).

Muito bom mesmo.

Galo Sempre. Rumo ao Bi (centenário)!

Diogo disse...

que isso, texto perfeito!

Unknown disse...

muito lindo
me fez chorar
parabéns GALO!!!

Anônimo disse...

Nossa, acho que esse foi o texto que mais me fez chorar e arrepiar.
Eu, realmente, espero que essa tenha sido a pior fase do Galo, e que daqui pra frente tudo melhore.
Quero, como você, contar aos meus netos como sofri com o "glorioso", e ser completamente realizada com o meu Clube Atlético Mineiro diante dos meus 85 anos.
Obrigada pelas lágrimas e arrepios, Paco.
Beijo da sua amiga.

GALO, uma vez até morrer!

Rodrigo Ávila disse...

Prezado Alvinegro Alexandre,
parabéns pelo texto, você me emocionou muito com essas palavras. Espero que um dia, de fato, não tão longínquo a ponto de ser relatado por meu neto, mas sim por meus filhos, o Galo possa reverter essa história de tanta luta pela qual passamos hoje. Sei, como a maioria de nós, Alvinegros, que nossa paixão pelo Galo não é só pelas palavras de nossos pais e avós, mas sim pelo reconhecimento de nossa imensa nação Alvinegra. Está no sangue. No nosso sangue negro e branco.
Saudações Atleticanas!!!

F.S.F disse...

O inicio do centenario eh o começo de uma nova era, de mts glorias

Thomas Tolomelli disse...

Parabens pelo texto!
Sao declaracoes como esta que me inspiram a permanecer apaixonado pelo Galo.
Espero que eu posso ter o orgulho de "ensinar" meus filhos e netos a torcer pelo mais glorioso clube do mundo.

Alexandre Magno disse...

Caramba... show de bola... que suas palavras se façam realidade, mas que não demore quase 60 anos. Saudações!