segunda-feira, 24 de março de 2008

Atlético Secular



por Priscila Oliveira

Há 100 anos, um grupo de jovens se reunia, onde hoje se encontra o Parque Municipal para fundar um clube de futebol. Com apenas uma bola, repletos de ideais e muita determinação enfrentaram as dificuldades da época para atingir objetivos.
A luta, desde sempre impregnada na alma atleticana, e a raça fizeram do projeto daqueles meninos uma realidade. Assim, conseguiram campo para treinar, uniforme, adeptos, estádio e movimentaram a vida esportiva da capital mineira também criança.
O Clube ainda carrega consigo uma característica louvável. Em uma época de expansão de agremiações futebolísticas, onde o esporte mais popular do mundo era visto como esporte de elite, o Atlético, desprovido de preconceitos, mudou essa tendência e abraçou a massa. Desde o nascedouro, não houve discriminação, seja de classe social, raça ou crença. Batava a identificação com o esporte e com o Clube Atlético Mineiro.
Clube do povo, da massa, também tem vocação para primogênito. Primeiro campeão mineiro, primeiro em Minas a ter um estádio, a levar a torcida feminina para as arquibancadas, a ter torcida organizada, primeiro time no Brasil a excursionar pela Europa, e, mais tarde, o primeiro Campeão Brasileiro e da Taça Conmebol, dentre outros pioneirismos. A última inovação foi imortalizar a camisa 12 em homenagem a torcida. Um presente a essa paixão indescritível e secular.
História permeada de glórias, alegrias, de superação, de amor à camisa e também de traições, de dificuldades e dos maiores equívocos de arbitragem que se têm notícia. História que também teve seus contratempos, seus tropeços. O maior deles, a queda para o sub-futebol brasileiro, no dia 27 de novembro de 2005. Não vamos tapar os olhos. Insisto é preciso reconhecer para melhorar. Descenso resultado de alguns anos de má administração, contratos mal feitos e capítulos mal explicados. O que ficou conhecido como a possível “crise do centenário” que levou, nos últimos anos, à queda de equipes igualmente tradicionais e centenárias como Botafogo, Grêmio, Palmeiras e Fluminense. Desses, somente o tricolor das laranjeiras não teve a dignidade para voltar à elite dentro das quatro linhas. Ah, Fluminense!
O que importa é que voltamos rápido ao nosso lugar e afastamos para bem longe a possibilidade de comemorar o centenário fora de casa.
Passaram-se 100 anos do pontapé inicial daqueles meninos. O espírito aguerrido de luta e de raça ainda são os que sobressaem aos demais, não só de uma maneira positiva, infelizmente.
Hoje a luta é para não deixar as dívidas e os resquícios de administrações anteriores empanarem o brilho da data histórica e de toda uma vida. E, é na raça, que a atual diretoria continua a escrever a história do Clube no futebol contemporâneo. Transcrevendo Shakespear, “... há quedas que provocam ascensões maiores”.
Há um tempo, escrevi um texto onde expressava a vontade de ter de volta os craques do passado como Mário de Castro, Said, Cafunga, Ubaldo, Lauro, Lucas Miranda, dentre outros. Ao rever meu conceito, o que se almeja realmente é o Galo do futuro com os craques do futuro. Claro! Com um pouquinho da genialidade de cada um que escreveu o nome nessa história centenária.
As comemorações são bem-vindas e merecidas, tamanha a importância da data. Afinal, chegar aos 100 anos é algo a ser festejado com todas as “pompas e circunstancias” que exige a ocasião.
Porém mais que carnaval, é preciso planejamento, parcerias transparentes, investimentos na base e contextualidade com o futebol moderno. Chega de promessa. O que se deseja é preparação, visão e muita transpiração para que os próximos 100 anos sejam prósperos. Acredito no trabalho sério!
Por hora, desejo um feliz centenário ao Atlético, ao “Galo mais lindo do mundo”, como diria Milton Neves. O presente para o Clube? É a Massa! Seu maior patrimônio. Essa alucinada, rouca, incansável! O presente para nós? O trabalho. Parabéns Galo!


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