terça-feira, 15 de abril de 2008







“O preconceito é filho da ignorância”

Essa frase é de William Hazlitt, escritor inglês do final do século XVIII e início do século XIX, mas – infelizmente – continua atual. É comum as pessoas terem preconceito contra aquilo que simplesmente não conhecem. E isso se reflete, no futebol, das mais diversas maneiras.

Uma delas é o tratamento dado a um jogador que vem de um time pequeno ou de um time de uma área menos prestigiada pela mídia. Por mais que ele tenha qualidade e tenha demonstrado isso em seu time, ele sofre muito quando chega aos grandes centros. Sofre de uma forma desproporcional, muitas vezes. Pra garantir seu lugar no time, não basta jogar bem. Tem que jogar muito bem. Sempre. Senão perde lugar para um jogador que já foi testado inúmeras vezes, e que – muitas vezes – nunca rendeu nem perto do esperado. Se dois jogadores de mesmo nível disputam uma posição, não ganha o mais novo, o mais trabalhador ou o mais humilde. Ganha o que tem procedência de mais prestígio. Isso, muitas vezes, sai caro pro time. Mas nem só a procedência causa preconceito. A idade, o porte, a altura, a fala e – por incrível que pareça – até o nome ou apelido! É ridículo! Mas acontece. E não só um preconceito do torcedor ou da imprensa, mas também do treinador. Poderia citar inúmeros casos, mas cada um sabe onde o calo aperta.

Porém, não era exatamente esse meu tema pra hoje. Ou, pelo menos, não era o que eu preciso escrever hoje. Hoje eu quero falar do preconceito entre torcedores. Mas não só preconceito, mas também da ignorância.

É raro as pessoas perceberem, mas muito do preconceito que elas têm contra um determinado time não é simplesmente pelo que ele representa nacionalmente. É um preconceito contra sua origem. No sudeste, de forma geral, o preconceito é muito maior contra um time pequeno do Norte ou Nordeste do que contra um time com a mesma carga histórica, porém do Sul do país. Isso não tem fundamento senão no preconceito contra o próprio povo nordestino e nortista. Outro preconceito típico é o da metrópole contra o interior. O torcedor do time de uma metrópole tende a respeitar mais um time de uma outra metrópole do que um time vindo de uma cidade menos expressiva econômica, política ou demograficamente! Lembrando que a noção de metrópole, neste caso, tem muito mais haver com uma noção relativa do próprio torcedor do que uma definição geográfica ou geopolítica. “Quais as metrópoles brasileiras?” é uma pergunta com uma resposta em Florianópolis bem diferente da resposta em São Paulo.

Esse preconceito acaba sendo expelido da pior forma possível: nas discussões entre torcedores. Ao invés de “brincadeiras saudáveis” como discutir tamanho de torcida, conquistas (históricas e/ou atuais), times memoráveis, feitos, resultados recentes, últimos confrontos, números dos confrontos, estrutura, patrimônio, dívidas e demais valores medidos pelos clubes dentro do mundo esportivo e administrativo, o que acaba acontecendo é uma chuva de insultos (em grande parte tendenciosos, falsos ou descabidos) de todo tipo, contra não só o time, mas contra o torcedor daquela agremiação e contra a população do lugar de origem daquela agremiação. Não preciso aqui citar nenhum exemplo. Todos sabemos exatamente do que eu estou falando.

Agora, o pior é as pessoas não perceberem que o insulto, por si só, já é uma admissão de incompetência argumentativa. Quando se parte pra agressão é porque já não se tem mais nenhum recurso intelectual. É a vitória da ignorância. Não só uma ignorância sobre a história do adversário, sobre a estrutura e demais elementos já citados, mas principalmente uma ignorância sobre os próprios méritos de seu clube. E, obviamente, podemos generalizar isso a todos os segmentos da vida humana. Se uma pessoa em seu trabalho perde as estribeiras, é porque ela já não é capaz de colocar de forma clara e precisa os motivos pelo qual tomou determinadas atitudes e o porquê delas terem parecido (ou serem) melhores que as outras opções apresentadas. É a total incapacidade de defender seu ponto de vista (ou de admitir um erro). Voltando ao futebol, o torcedor não consegue falar bem do seu time, não consegue usar de argumentos esportivos pra falar do time do outro (o que sempre me pareceu uma segunda opção. Antes falar do meu time que desmerecer o do outro, salvo raras exceções), não consegue nem mais expressar suas opiniões. Parte pra agressão verbal, pro preconceito e pra ignorância. Por fim, parte pra agressão física. Como diria Isaac Asimov, escritor e cientista russo (naturalizado norte-americano), "a violência é o último refúgio do incompetente".

Seria bom que todos soubéssemos conviver em sociedade e respeitar o próximo, lembrando que todos somos iguais, por mais que o estado e a mídia costumem se esquecer disso. É uma luta, muitas vezes, mas que não é vã. Afinal, como diria Henry David Thoreau, escritor norte-americano, “nunca é tarde para abrirmos mão dos nossos preconceitos”.

P.S.: Perdão pelo tamanho do texto. Mas era algo que precisava ser dito.

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